A Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) firmou, em março de 2023, uma parceria científica com a China para desenvolver fertilizantes orgânicos no Brasil. A cooperação prevê pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias, envolve a UFRA, com sede em Belém (PA), o governo chinês, a Universidade de Hohai e a empresa Zhuhai Sino-Lac Supply Chain.
“A China vai liberar a tecnologia para o Brasil, que vai ser testada e adequada às condições do país, especialmente da Amazônia, para uma futura comercialização dos produtos por aqui”, afirmou a reitora da UFRA Herdjania Veras de Lima.
Segundo o pesquisador responsável pelo trabalho, professor Anderson Braz, o objetivo é recuperar áreas degradadas tendo como receita a utilização do biofertilizante feito para a Amazônia e o reaproveitamento de resíduos rochosos das minas do Pará.
A Sino-Lac desenvolveu um biofertilizante adaptado para a região Amazônica. A ideia é que a partir do fertilizante criado pela empresa, um terceiro produto seja desenvolvido pela pesquisa na universidade. O biofertilizante proposto foi criado pensando nas condições de solo e clima da região Amazônica. O pesquisador explica que o produto traz mais benefícios, desde a liberação de nutrientes retidos no solo até auxílio na nutrição mineral de plantas, atenuando o processo de deterioração do solo e ajudando a recuperar o equilíbrio ambiental do agronegócio com o ecossistema.
O terceiro produto, o pó de rochas, é oriundo de subprodutos da mineração. “Esses materiais, transformados em pó de rocha, podem conter altos teores de macronutrientes, como o potássio, essencial para as plantas. A ideia é pegar o biofertilizante que foi desenvolvido para a nossa região e testar as combinações com os subprodutos da mineração que nós temos no Estado”, comenta o pesquisador.
Para o professor, a parceria pode gerar ganhos tanto do ponto de vista científico, quanto social e ambiental. “Do ponto de vista da sustentabilidade, podemos ter uma diminuição do uso de defensivos agrícolas tornando os alimentos mais saudáveis e diminuindo a poluição ambiental. E a capacitação não será apenas acadêmica, também vamos capacitar os produtores regionais”.
Em fevereiro de 2024, a Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec) e a comitiva chinesa formada por representantes da Zhuhai Sino-Lac Supply Chain Co., Guangdong Nongfengbao e Universidade de Hohai se encontraram no Pará.
Os visitantes apresentaram o projeto de processamento de biofertilizantes, em parceria com a UFRA, e aproveitaram para prospectar informações da Codec sobre o potencial econômico do Pará. A Companhia apresentou seu programa de trabalho, atuação e função institucional, além de oportunidades de negócios para empresas chinesas no Estado, incluindo a futura Zona de Processamento e Exportação de Barcarena (ZPE), que despertou o interesse dos investidores para implantação de unidades fabris de biofertilizantes para exportação.
Mais de oito empresas do segmento de fertilizantes já se instalaram no Pará, entre os distritos de Santarém, região oeste do Estado, e Barcarena, localizada na região de integração do Tocantins. Com apoio da Codec, o Pará vem se tornando um dos grandes players especializados na produção de fertilizantes. Além dos incentivos fiscais, que podem chegar até 90%, a localização estratégia também é um forte aliado aos interessados em investir na região.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção nacional de fertilizantes ainda é inferior à demanda interna e o seu uso cresce a cada ano. Ainda segundo a Embrapa, o Brasil, atualmente, é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, mas suas importações chegam entre 70% e 80% do seu consumo, devido à explosão do agronegócio e o Pará seguiu, nos últimos anos, a mesma tendência de boa parte do País.
A oferta global de fertilizantes é altamente concentrada, sendo a Rússia um dos principais produtores. Com os conflitos existentes no país, houve um impacto no valor cobrado pelos fertilizantes. “Nosso objetivo é conseguir desenvolver um produto local, de baixo custo e que possa disponibilizar aquilo que a planta precisa”, segundo Braz.
Benefícios:
Sustentabilidade: Redução do uso de agrotóxicos, tornando os alimentos mais saudáveis e diminuindo a poluição ambiental.
Social: Capacitação de produtores regionais para o uso do biofertilizante.
Econômico: Diminuição da dependência de fertilizantes importados, geração de empregos e oportunidades de negócios no Pará.
Desafios:
A produção nacional de fertilizantes ainda é inferior à demanda interna.
O Brasil importa entre 70% e 80% do que consome.
A parceria entre a UFRA e a China para o desenvolvimento de biofertilizantes tem o potencial de trazer diversos benefícios para a Amazônia. O Pará, com sua infraestrutura favorável e incentivos fiscais, está bem-posicionado para se tornar um polo de produção de biofertilizantes. No entanto, o projeto ainda enfrenta desafios como a dependência de importações e a instabilidade do mercado global de fertilizantes. O sucesso da iniciativa dependerá da capacidade de superar esses desafios e garantir a produção e a utilização em larga escala do biofertilizante na região.
Referências:
Comentarios