Pouca repercussão teve na mídia brasileira, como de hábito, o encontro anual de 2019 do Congresso Nacional do Povo da China, em março último. Algumas decisões ali tomadas, contudo, apresentam uma importante mensagem que não deveria ser ignorada pelo empresário brasileiro atento a estratégias de crescimento de longo prazo para seus negócios.
Segundo a agência de notícias oficial Xinhua em artigo de março último (link abaixo), uma nova lei com significativas reduções de restrições e controles para investimentos estrangeiros no mercado chinês foi submetida e aprovada no último NPC (da sigla em inglês para National People’s Congress). Entre vários dispositivos, há liberação de acesso ao mercado chinês de capitais, financeiro e de seguros, redução de setores onde era totalmente vedado o investimento externo bem como liberação de outros onde era exigida associação com sócios majoritários chineses e transferências forçadas de tecnologia.
O NPC é a mais alta instituição legislativa da China. Com quase 3.000 membros, reúne-se uma vez por ano, em março, quando são votadas maioria das mudanças de leis e novos projetos do país de uma só vez, permitindo aos membros passarem o restante do ano trabalhando em suas bases na execução das decisões ali tomadas. Na mesma ocasião, os representantes são cobrados pelos resultados das decisões tomadas no ano anterior. Um sistema de dar inveja, em muitos aspectos, às democracias ocidentais.
Por seu próprio sistema de funcionamento, os resultados são sólidos e constantes, mas as mudanças tendem a ser lentas. No caso desta lei, no entanto, o primeiro rascunho do projeto e sua votação estiveram separados por apenas cerca de 3 meses. É quase consenso entre analistas de que isto ocorreu devido à guerra comercial entre China e EUA, provocada pelo governo Trump desde sua inauguração, visando aumentar o volume de vendas americanas para os portos na China. Como os americanos têm muitas queixas a respeito da abertura do mercado chinês aos seus investidores, as medidas são interpretadas como um gesto de boa vontade do Presidente chinês Xi Jinping ao seu colega americano para facilitar a solução das controvérsias.
A princípio, as medidas parecem muito concentradas no setor financeiro e nos interesses dos grandes conglomerados multinacionais. Mas o que elas poderiam significar para o empresário brasileiro pequeno e médio dos setores de comércio, indústria e serviços? Como sempre, a resposta está na visão estratégica de longo prazo. O segredo é olhar as tendências, agir agora e colher enormes frutos no futuro, sempre tendo em mente que o mercado consumidor chinês é quase 7 vezes maior que o brasileiro.
A melhor forma de ilustrar isso é citar um caso concreto de uma marca muito conhecida dos brasileiros: a Volkswagen.
Em meados dos anos 80, quando recém engatinhava a abertura econômica para negócios na China, seu mercado consumidor tinha muito baixo poder aquisitivo, a logística na China era terrível, o governo impunha pesadas restrições ao investimento estrangeiro e os portos na China eram um pesadelo, a automotiva alemã teve uma visão estratégica sólida a respeito do brilhante futuro do mercado chinês. Aceitou todas as imposições legais, abriu produção e vendas diretas no mercado chinês com parceiros locais e cultivou boas relações com as autoridades do país. Seus competidores, ainda muito inseguros e desconfiados, contentaram-se em exportar pequenas quantidades de veículos para os portos na China. Para encurtar uma longa história, a VW terminou por chegar a ocupar 70% do mercado chinês, que floresceu absurdamente nas décadas seguintes, consolidando sua marca junto aos chineses e contornando o baixo poder aquisitivo da população naquela época com fornecimento a compradores governamentais, como o serviço de táxis. Até hoje, brasileiros que chegam a Shanghai se surpreendem com o quase monopólio de Santanas e Quantums, tão familiares a nós nos anos 80 e 90, entre os táxis da cidade. E apesar do enorme afluxo posterior de fabricantes americanos, europeus, japoneses e coreanos, pela relação afetiva com a marca que estabeleceu com a população chinesa, a Volkswagen ainda detém cerca de 20% de market share por lá. Hoje, possivelmente seja seu maior mercado. Esta saga está muito bem resumida em artigo do Financial Times de alguns anos atrás (link abaixo).
O resumo da ópera para empresários brasileiros de qualquer porte e setor? A tendência de abertura do mercado chinês e facilitação de investimento estrangeiro é contínua, sólida e irreversível. A facilitação chegará inevitavelmente a outros setores. O mercado potencial é enorme e os que se moverem primeiro (first movers) se antecipando, aprendendo a legislação, desenvolvendo a logística na China, compreendendo os costumes locais e trabalhando sua marca desde já deverão colher enormes frutos no futuro. A oportunidade é um verdadeiro game changer para qualquer negócio. A diferença entre ser pequeno e enorme.
Iniciar negócios na China parece difícil, complicado, distante? Quanto pode custar uma operação piloto de seu negócio na China? Talvez menos do que você imagina. E um simples estudo sobre o modelo ideal e estimativa de custos desta operação piloto? Menos ainda. A diferença entre se mexer agora ou não pode ser a de tornar o seu negócio grande ou não. Pense de novo no exemplo da Volkswagen.
Desejo uma boa escolha para você!
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