Após anos de negociações, a China liberou as importações do farelo de soja brasileiro no fim de 2022 e hoje vamos mergulhar um pouco no contexto e nas implicações dessa notícia para o Brasil.
Histórico
A China é incontestavelmente o maior comprador de soja do mundo, responsável pela compra de mais da metade das vendas mundiais, atingindo a marca de 64% em 2018 segundo dados da Conab. Por outro lado, o país nunca teve uma tradição de importação do farelo de soja. Amparada pelo maior parque industrial do mundo, a China sempre importou a soja em grãos, realizando o processamento no seu próprio território, girando as economias locais.
O principal uso da soja no gigante asiático é a fabricação de ração animal, com mais de 1 bilhão de suínos, 25 bilhões de aves e uma produção de 500 bilhões de ovos/ano, a demanda por soja na China sempre esteve em níveis elevados quando comparados com a média mundial. Outro fator importante é o próprio hábito alimentar dos chineses, que consomem cerca de 300 ovos/ano/habitante, um dos quatro países a atingir essa marca em 2021 junto com México, Japão e Paraguai, segundo dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
A geografia também é outro fator de influência significativa nessa equação: com a maior população do mundo (1,4 bilhões de habitantes) a China possui apenas 7% de terras cultiváveis. Mesmo com um território extenso, esse número não é o suficiente para suprir as necessidades da população, forçando o país a buscar fornecimento no exterior.
Implicações
Partindo de uma dependência histórica nas importações para suprir sua demanda por soja, a China tem se apoiado cada vez mais no Brasil como seu principal fornecedor. Brasil e Estados Unidos juntos produzem mais de dois terços do total de soja mundial, mas os recentes atritos entre chineses e americanos abriu espaço para o produto brasileiro, que foi o maior fornecedor de soja para a China em 2020, com 63,5% do total.
O cenário geopolítico tornou China e Brasil parceiros naturais no mercado de soja e o agronegócio, e o Brasil como um todo, agradece. Além da flexibilização para exportação do farelo de soja já pronto, o governo chinês também liberou a safra de 2022 dos protocolos normais de importação, ou seja, em caráter de exceção, a comercialização da safra de 2022 foi feita de forma simplificada, comprovando mais uma vez um certo senso de urgência do lado chinês em diversificar suas fontes de abastecimento.
Embora para a safra de 2023 os protocolos normais voltem a valer, o maior mercado do mundo está aberto para o farelo de soja brasileiro e a tendência é que as relações sino-brasileiras fiquem cada vez mais estreitas.
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