De Olho no Futuro: O Brasil busca seu lugar na indústria de semicondutores e a parceria com a China.
- Lantau
- há 17 horas
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A corrida tecnológica entre China e Estados Unidos ganha mais um capítulo importante. A gigante Huawei está prestes a lançar o chip de inteligência artificial a 910C para clientes chineses. De acordo com fontes da agência Reuters, algumas unidades já foram entregues antecipadamente e o modelo promete se tornar peça-chave para suprir a crescente demanda por GPUs (Unidade de processamento gráfico) do país. Esse movimento acontece devido as recentes restrições impostas por Washington à venda de chips da Nvidia para empresas chinesas. Com isso, o chip H20 da americana NVIDIA agora exige licença especial para ser exportado para a China. O Ascend 910C surge como uma resposta robusta. Segundo especialistas, ele combina dois processadores 910B da geração anterior em um único pacote, utilizando técnicas avançadas de integração. Essa evolução arquitetônica dobra a capacidade de processamento de memória em relação ao antecessor, oferecendo desempenho comparável ao poderoso HC da NVIDIA. Além disso, o novo chip traz melhorias importantes para cargas de trabalho de inteligências artificiais diversificadas. Embora não seja revolucionário, o 910C representa uma otimização crucial em um cenário de sanções comerciais. Com as restrições dos Estados Unidos, grandes empresas chinesas intensificaram o desenvolvimento de soluções locais. O 910C pode se tornar o principal hardware de referência para desenvolvedores de modelos de inteligência artificial na China.
O cenário global de semicondutores é marcado por crescente importância estratégica, impulsionado pela sua aplicação fundamental em diversas tecnologias e setores da economia. O Brasil manifesta uma ambição clara de ingressar nesta indústria, e a China, como um dos principais atores globais, emerge como um parceiro relevante e um competidor a ser considerado. As principais estratégias que o Brasil está adotando para se inserir na corrida dos semicondutores, incluindo iniciativas governamentais, o foco em áreas específicas e a busca por colaborações internacionais. A cooperação entre Brasil e China apresenta um potencial significativo, embora desafios e oportunidades devam ser cuidadosamente avaliados.
A indústria de semicondutores no Brasil encontra-se em um estágio inicial de desenvolvimento, com uma participação ainda limitada no mercado global. Apesar disso, o país possui algumas empresas domésticas atuando principalmente na etapa final do processo produtivo, conhecida como "backend", que envolve o encapsulamento e teste de chips. O setor brasileiro de semicondutores gera uma receita que ultrapassa US$ 1 bilhão e emprega diretamente cerca de 2.500 pessoas. É notável que, apesar da modesta participação global, uma parcela significativa da produção nacional de computadores (90%) e smartphones (metade) utiliza chips fabricados no Brasil, o que sugere uma capacidade instalada, ainda que focada nas etapas finais de produção. Esta realidade aponta para um desenvolvimento inicial de expertise e infraestrutura nas fases de encapsulamento e teste, que podem servir como alicerce para um crescimento mais robusto.
Investimentos e incentivos:
O Brasil tem demonstrado um esforço crescente para fortalecer sua indústria de semicondutores. O programa Brasil Semicondutores (Brasil Semicon) visa impulsionar o setor, e espera-se um investimento significativo de cerca de R$ 24,8 bilhões até 2035. A prorrogação do PADIS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores) é crucial para a continuidade e o crescimento da indústria nacional.
A CEITEC (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) está focando em revitalizar suas operações e se inserir de forma estratégica no mercado.
Parcerias estratégicas:
A colaboração entre universidades, empresas e o governo é vista como fundamental para o desenvolvimento do setor, atraindo talentos e fomentando a inovação. A PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), por exemplo, tem se destacado na formação de profissionais e na atração de empresas para seu parque tecnológico.

Foco em nichos estratégicos:
A CEITEC busca se posicionar em nichos de mercado com alto potencial de crescimento, como o fornecimento de chips para os setores de transição energética (painéis fotovoltaicos, veículos elétricos e híbridos). Essa estratégia visa aproveitar as demandas emergentes e o potencial nacional nesses segmentos.
Investimentos significativos:
O MCTI anunciou um investimento de R$ 220 milhões na CEITEC, com o objetivo de fortalecer a cadeia tecnológica nacional e atender às demandas de mercados em expansão. Parte desse montante será destinada à capacitação do pessoal da estatal.
O presidente da CEITEC, Augusto Gadelha, esteve na China o mês passado para participar da Missão Empresarial na China 2025. O objetivo principal dessa viagem é estabelecer parcerias entre empresas brasileiras e chinesas no âmbito de projetos prioritários, que incluem o setor de semicondutores. Isso indica um interesse da CEITEC em buscar colaborações com empresas chinesas.
Desafios e Considerações:
Geopolítica: A complexa geopolítica global e a disputa tecnológica entre Estados Unidos e China podem influenciar as possibilidades de cooperação. O Brasil precisará navegar cuidadosamente nesse cenário.
Transferência de Tecnologia: É importante garantir que as parcerias envolvam a efetiva transferência de tecnologia e o desenvolvimento da capacidade nacional, e não apenas a montagem de produtos.
O futuro do Brasil no setor de semicondutores dependerá de um planejamento estratégico consistente e da capacidade de aproveitar nichos de mercado e parcerias internacionais.
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