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A Corrida pelas Terras Raras: O Papel Estratégico do Brasil na Nova Ordem Mundial.

  • Lantau
  • 6 de ago.
  • 5 min de leitura
Mineradora de Terras Raras .           Fonte:Invest News
Mineradora de Terras Raras . Fonte:Invest News

Na era digital e da crescente transição energética, reside um grupo de 17 elementos químicos com nomes que soam exóticos: as terras raras (TRs). Longe de serem escassas na crosta terrestre, é a extrema dificuldade e o alto custo de extraí-las em concentrações viáveis e de processá-las que as elevam à categoria de recursos estratégicos de valor inestimável.

Desde sistemas eletrônicos avançados, placas de vídeos, chips para IA, motores de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e os sofisticados sistemas de defesa, as terras raras são os invisíveis, mas indispensáveis, componentes que impulsionam a tecnologia do século XXI. Contudo, o que as torna tão cruciais para a inovação e a segurança global também as coloca no centro de uma intensa e crescente disputa geopolítica.

Com a China dominando a maior parte da cadeia de produção, o acesso a esses minerais tornou-se um ponto nevrálgico nas relações internacionais, levando nações a buscar desesperadamente novas fontes e a investir pesadamente em diversificação. Essa corrida por terras raras não é apenas uma questão econômica, mas um pilar fundamental da segurança nacional e da soberania tecnológica no cenário global atual.

O Brasil se destaca como uma potência geológica, detentora da segunda maior reserva global, estimada em aproximadamente 24,9 milhões de toneladas (Mt), segundo informações do Serviço Geológico dos EUA (USGS).


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Além das terras raras, a riqueza mineral do Brasil se estende a outros minerais estratégicos críticos, incluindo Nióbio (onde detém 92% da produção global), Lítio, Grafite (a maior reserva global) e Níquel (a terceira maior). Esse portfólio mais amplo aumenta sua importância estratégica.

Os principais depósitos de terras raras são identificados em vários estados brasileiros, notadamente na Bacia do Parnaíba (abrangendo partes do Maranhão, Piauí), Poços de Caldas (Minas Gerais), Araxá (Minas Gerais), Catalão (Goiás), Minaçu (Goiás), Amazonas e Bahia. O projeto Minaçu em Goiás é particularmente significativo, pois abriga depósitos de argilas iônicas semelhantes aos encontrados no sul da China e é o lar da Mineração Serra Verde, que iniciou suas operações em janeiro de 2024 com capacidade de 5 kt OTR(Óxidos de Terras Raras)/ano, principalmente para exportação – tornando-a a única produção comercial de terras raras fora da Ásia a partir de tais depósitos.


Mineração Serra Verde -  Projeto Minaçu - GO       Fonte: Brasil Mineral.
Mineração Serra Verde - Projeto Minaçu - GO Fonte: Brasil Mineral.

O principal desafio para o Brasil reside na ausência de tecnologia e infraestrutura para as etapas cruciais de separação e refino, que são as que agregam o maior valor aos minerais. A China detém essa tecnologia, o que encarece a importação de produtos já processados para o Brasil e, por sua vez, força o país a exportar sua matéria-prima bruta.

Isso explica por que o Brasil, apesar de suas vastas reservas, tem uma produção real insignificante e atua principalmente como exportador de matérias-primas. Essa situação ressalta uma vulnerabilidade econômica substancial, pois o país perde receitas potenciais significativas (até R$ 243 bilhões/ano), segundo informações do Brasil 61.

 

Iniciativas Nacionais para o Desenvolvimento do Setor.

 

O Brasil tem demonstrado um reconhecimento crescente da importância estratégica das terras raras e da necessidade de desenvolver sua cadeia de valor interna. O Projeto de Lei 2210/2021, que visa instituir a Política Nacional de Fomento ao Desenvolvimento Tecnológico da Cadeia Produtiva dos Minerais Componentes dos Elementos Terras-Raras (PADT), é um exemplo claro dessa mobilização. O objetivo da PADT é fomentar a produção de bens e serviços de alto valor agregado a partir das TRs, incentivar pesquisa e desenvolvimento (P&D), inovações e patentes nacionais, e priorizar o licenciamento ambiental para projetos de TRs.

Paralelamente à iniciativa legislativa, diversos projetos e investimentos estão em andamento:

  • Mineração Serra Verde: Já está em produção comercial e tem planos ambiciosos, prevendo entregar 5.000 toneladas anuais de OTR até 2026, com projeção de dobrar a produção até 2030. Contudo, a produção da Serra Verde está largamente comprometida com empresas chinesas, evidenciando a dependência da capacidade de processamento da China.

  • Meteoric Resources: Uma empresa australiana com investimentos em Poços de Caldas (MG) tem demonstrado potencial significativo.

  • Labfab ITR (Lagoa Santa, MG): O Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras, um projeto nacional, possui capacidade instalada para produzir até 100 toneladas por ano, com possibilidade de expansão para 250 toneladas anuais.

  • Fundo de Pesquisa Mineral: A criação de um fundo de R$ 1 bilhão para pesquisa mineral visa impulsionar a exploração e o desenvolvimento do setor.

  • Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras Raras do Senai: Esta iniciativa busca desenvolver tecnologia nacional e promover a industrialização.

  • Aquisição de laboratório fábrica pela FIEMG: A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) adquiriu um laboratório fábrica para o desenvolvimento de tecnologia nacional e industrialização, reforçando a capacidade de P&D.

  • Colaborações Multissetoriais: Há parcerias com diversas empresas de diferentes setores, como WEG, Stellantis, Iveco Group, Vale, Mosaic e Schulz, além de instituições de pesquisa renomadas como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e os Institutos SENAI de Inovação.


Esses projetos demonstram um reconhecimento da urgência e uma ação legislativa e industrial para o desenvolvimento do setor. No entanto, o desafio da integração vertical e a "armadilha" da exportação bruta persistem. Embora projetos como a Mineração Serra Verde estejam aumentando a extração de terras raras, a produção já está "travada em acordos de offtake com a China para processamento". Isso demonstra que o mero aumento da produção de minério não resolve o problema da agregação de valor se a capacidade de processamento doméstica for inexistente e monopolizada externamente. Essa dinâmica cria uma "armadilha de recursos", onde o Brasil extrai o recurso valioso, mas cede a maior parte dos benefícios econômicos e estratégicos (derivados do processamento) a outras nações. As iniciativas nacionais, como o Labfab ITR, Senai, FIEMG e o fundo de R$ 1 bilhão, são tentativas diretas, embora incipientes, de quebrar esse ciclo, construindo capacidades de processamento internas, o que representa a verdadeira medida de sucesso estratégico e soberania sobre o recurso.

O Brasil se encontra em uma posição delicada, mas também privilegiada. O interesse dos EUA pode abrir portas para investimentos e mercados, aliviando pressões comerciais. Contudo, a China permanece o principal destino das exportações minerais brasileiras, e manter boas relações com Pequim é crucial para a balança comercial. A decisão do governo brasileiro exigirá habilidade diplomática para negociar com ambas as potências, sem comprometer a soberania nacional ou os laços comerciais já estabelecidos.

É imperativo que o país supere esses desafios estruturais e tecnológicos para capturar o valor agregado e assegurar a soberania sobre seus recursos. A relação com a China, embora comercialmente crescente e potencialmente cooperativa, deve ser gerida de forma estratégica para evitar uma dependência excessiva e promover uma parceria mais equitativa e mutuamente benéfica. Isso exige um esforço coordenado para acelerar o desenvolvimento de capacidades de processamento nacionais, diversificar parceiros comerciais e tecnológicos, fortalecer o marco regulatório para atrair investimentos responsáveis e promover intensamente pesquisa, desenvolvimento e inovação em toda a cadeia de valor, sempre com a sustentabilidade ambiental e social como pilar.

A visão de futuro para o Brasil no setor de terras raras é a de um país que não apenas extrai, mas também processa e agrega valor a esses minerais críticos. Ao fazê-lo, o Brasil fortalecerá significativamente sua posição econômica e geopolítica no cenário global da transição energética e tecnológica, garantindo que essa riqueza mineral beneficie primariamente o desenvolvimento nacional e a segurança estratégica do país.

Referências:






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