Com o objetivo de criar uma Plataforma de Logística Integrada na área portuária e industrial de Barcarena, a primeira neste modelo na América Latina, o presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec), Lutfala Bitar e sua equipe iniciou em 2020 tratativas junto a Companhia Estatal chinesa Sino-Lac Supply Chain Co., Ltd, tendo à frente o executivo Zhu Chuanin, para viabilizar o projeto de criação de uma estrutura de logística (armazenamento, desembaraço aduaneiro, atestação fitossanitária, embalagem e transporte), gerenciada pela companhia chinesa, destinada a promover a exportação de produtos brasileiros do ramo de alimentos (proteínas animais e vegetais), para o mercado interno chinês, com desembarque na plataforma de logística no Porto de Zhuhai, na China.
A escolha da região portuária de Barcarena como a melhor opção no Brasil, para receber esse investimento, decorreu de estudos que vem sendo realizados pela Sino-LAC desde 2017, onde a forte cadeia produtiva de proteínas do estado teve grande peso, especialmente a animal (carne), que possui 4 plantas habilitadas para a exportação.
Foram tratadas alternativas para a implantação de plantas de beneficiamento de produtos dentro da futura Zona de Processamento de Exportações de Barcarena (ZPE), por conta das expressivas vantagens tributárias e aduaneiras que trariam ao preço dos produtos. Tais alternativas estão sendo aprofundadas por uma comissão bilateral envolvendo representantes do Pará e da Sino-LAC.
Paralelamente, investimentos em infraestrutura no Estado do Pará estão sendo alocados pelo governo federal. A expectativa é que R$ 38 bilhões previstos no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, sejam investidos, ao longo dos próximos quatro anos, e infraestrutura capaz de criar condições para que o chamado Arco Norte seja a porta de saída de uma fatia cada vez maior da safra de grãos do Centro-Oeste.
A região produziu cerca de metade dos 193 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil no ano passado.
Segundo a Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), 37% dos granéis agrícolas exportados, como milho e soja, passaram pelos nove portos representados pela entidade, seis deles no Pará.
Em abril de 2023, o governador do Pará, Helder Barbalho, o presidente adjunto da Communications Construction Company (CCCC), - maior construtora da China-, Sun Liqiang, e o vice-presidente executivo de Assuntos Corporativos e Institucionais da Vale, Alexandre Silva D'Ambrosio, assinaram um Memorando de Entendimento da Ferrovia do Pará, sobre a intenção da construção da Ferrovia do Pará integrando Marabá ao porto de Vila do Conde, em Barcarena.
Segundo o governador, os investimentos necessários são da ordem de US$ 2 bilhões, cerca de R$ 10 bilhões, para interligar os municípios de Barcarena, na região nordeste do Estado com municípios do sudeste paraense, como Marabá e Parauapebas, e de lá até o município de Açailândia, no Maranhão, com a ferrovia Norte-Sul para o transporte de pessoas e escoamento de cargas produzidas no Pará, sobretudo da mineração e agropecuária, atividades características da região.
A Vale, importante mineradora que tem projetos de extração no Pará, anunciou o comprometimento em tirar do papel novos trechos de ferrovia, para interligar a região de Marabá ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena. Segundo a empresa, o projeto deve consumir a maior parte de quase R$ 3 bilhões prometidos pela companhia à comissão parlamentar da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) que tem como foco as atividades da empresa no Estado.
O Pará segue sendo uma potência brasileira nas exportações minerais, segundo dados do "Boletim Indústria Mineral do Pará", divulgados em 2022 pelo Sindicato das Indústrias Minerais (Simineral). Entre os produtos de exportação paraenses, 84% são minerais. O setor movimentou US$ 18,1 bilhões apenas no ano passado, tendo a China como a principal compradora. Apenas os negócios com o país asiático movimentaram US$ 10 bilhões, na aquisição de 119,9 milhões de toneladas, principalmente de minérios de ferro.
Embora o Pará seja um Estado de dimensões continentais, ainda é marcado por deficiências e insuficiências logísticas de transporte, o setor do agronegócio vê a ferrovia como uma oportunidade para impulsionar a circulação de mercadorias e alavancar as exportações para o mundo, como explica a assessora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Eliana Zacca. Ela lembra que o Pará é uma potência logística na América latina, como ponto mais próximo dos Estados Unidos, Europa e Ásia. O Estado possui uma rede hidroviária com oito bacias hidrográficas, sendo 48 mil quilômetros de rios navegáveis, e que, segundo lembra Zacca, ainda precisam ser mais bem aproveitados.
O traçado atual da ferrovia foi definido em 2021, com 487 km, após ajustes no projeto original. A primeira etapa da construção, que inclui o trecho em construção, tem previsão de conclusão em 2025. A segunda etapa ainda está em fase de estudos e licenciamento ambiental.
Trecho em construção:
Extensão: 275 km
Origem: Barcarena (Porto Vila do Conde)
Destino: Marabá (próximo à BR-222)
Municípios percorridos: Abaetetuba, Mojú, Acará, Tailândia, Tomé-Açu, Ipixuna do Pará e Paragominas
Trecho em estudos:
Extensão: 212 km
Origem: Marabá
Destino: Santana do Araguaia
Municípios a serem percorridos: A definir
Esta ferrovia terá capacidade para transportar 20 milhões de toneladas de carga por ano.
A obra é considerada crucial para o desenvolvimento da economia do Pará, especialmente para escoar a produção mineral e agrícola da região.
Referências:
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